Anúncio de libertação de abusadores gera indignação na Espanha
Centenas de pessoas protestaram nesta quinta-feira (21) na Espanha após a notícia de que em breve poderão ter a liberdade provisória os cinco integrantes do grupo “La Manada”, condenados recentemente por abusar de uma jovem nas festas de São Firmino, em Pamplona.Segundo meios de comunicação espanhóis, citando fontes judiciais, a Audiência Provincial de Navarra decretou a liberdade provisória sob fiança de 6.000 euros para os cinco membros do grupo, que se autodenomina “La Manada”. Um porta-voz do tribunal indicou à AFP que o texto da decisão não será divulgado até sexta-feira.
Os cinco jovens, com idades entre 27 e 29 anos, completariam em 7 de julho dois anos em prisão preventiva, o tempo máximo para esta medida.
Sua defesa havia pedido que fossem postos em liberdade após recorrer da sentença em primeira instância, dada em abril: nove anos de prisão por abusar sexualmente e em grupo de uma jovem madrilena de 18 anos durante as festas de São Firmino de 2016 – uma agressão que filmaram com um celular.
Em sua sentença, o tribunal descartou a acusação de estupro, o que, naquele momento, causou forte indignação no movimento feminista, que foi às ruas e, nesta quinta-feira, se mobilizou novamente ao saber da notícia.
Por enquanto, os primeiros protestos aconteceram em Pamplona, onde os manifestantes lotaram a praça da Prefeitura com frases como “Chega de violência machista”, e em Barcelona, onde havia centenas de pessoas.
Na manifestação barcelonesa o lema era “Contra a justiça patriarcal, autodefesa feminista”, e foram ouvidos cantos de “Fora justiça patriarcal” e “Nenhuma agressão sem resposta”.
“Ficamos mobilizadas pela raiva”, disse Diana García, de 49 anos, à AFP. “As mulheres não importam. Os deixam livres igualmente”, acrescentou.
“É uma vergonha, esses estupradores vão sair sem culpa alguma. Parece que querem libertá-los para que estejam prontos e em 7 de julho, Dia de São Firmino, façam isso novamente”, acrescentou Carmen Román, de 66 anos.
Para esta sexta-feira estão convocados protestos similares em Sevilha, de onde são os cinco jovens, em Madri, em frente ao Ministério de Justiça, e em outras cidades como Málaga, Valência e Zaragoza.
A indignação também invadiu as redes sociais, onde foram convocadas as manifestações com as hashtags #JusticiaPatriarcal e “YoSíTeCreo.
A decisão judicial ocorre em um contexto de um novo governo socialista na Espanha, chefiado por Pedro Sánchez, e que conta com 11 mulheres e seis homens, sendo proporcionalmente o mais feminino da Europa. Entre as pastas ocupadas por mulheres está a de Justiça, nas mãos de Dolores Delgado.
Em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o país viveu uma greve inédita em defesa dos direitos das mulheres e da igualdade.
Há anos o país havia sido pioneiro na luta contra a violência machista. Em 2004, durante o governo paritário do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, a Espanha criou uma lei integral contra a violência de gênero, dois anos depois de criarem um observatório especializado contra este problema.
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